martedì 11 marzo 2014

A.C.I.M.A. entrevista o escritor ANTONIO SALVADOR


 A A.C.I.M.A. – dando continuidade ao projeto de mapeamento dos artistas e escritores brasileiros residentes no exterior - “Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior”, inciado em setembro de 2011, tem o prazer de entrevistar o escritor ANTONIO SALVADOR, residente na Alemanha.
O projeto “Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior” da A.C.I.MA. abraça a arte e a cultura dos povos migrantes em todas as suas formas e manifestações – sejam elas, musicais, literárias, teatrais, artes plásticas, cinema, dança, fotografia, folclore, enfim, todas as expressões artísticas brasileiras.

A.C.I.M.A. entrevista o escritor ANTONIO SALVADOR  
 Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior





A.C.I.M.A. – Bem vindo ANTONIO SALVADOR, é uma honra tê-lo conosco! Primeiramente, gostaríamos de saber um pouco sobre você: de onde vem, qual sua terra natal? Onde vive atualmente?

A. S. – Eu considero que tenho duas terras natais. A primeira delas é a cidade de Natal, Rio Grande do Norte, onde nasci de fato, às 16:00 hs de uma sexta-feira, estragando o final de semana da família, pois resolvi vir ao mundo prematuramente. A segunda é a cidade de São Paulo, onde nasci como indivíduo ou, melhor dizendo, onde nasceu minha cosmovisão, onde fui morar três ou quatro anos depois do meu nascimento natural. Depois disso, renasci algumas outras vezes, em outros lugares, como, por exemplo, aqui na Alemanha, em Berlim, onde vivo atualmente.

A.C.I.M.A. – Como foi sua adaptação na Alemanha e quais as maiores dificuldades que encontrou no exterior? Maiores alegrias?

A. S. – A adaptação na Alemanha foi rápida, deu-se antes mesmo de eu me transferir para cá. Eu já conhecia bem o país, a língua, já havia estado aqui algumas vezes. A cultura alemã é muito interessante, o processo civilizatório foi dramático, os alemães sentem-se estigmatizados e isto está refletido na maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras. Há uma melancolia aqui, um lirismo, que o Brasil desconhece. Eu me identifico bastante com o modo de ser do povo alemão, ao mesmo tempo em que compreendo o quão profundas são as diferenças culturais. Todas as minhas alegrias decorrem desse embate interior. As dificuldades, por outro lado, não guardam necessária relação com o fato de viver no exterior. Honestamente, há mais dificuldades em viver numa cidade como São Paulo, onde o caos desaba sobre nossas cabeças minuto a minuto, ou numa cidade como Natal, um feudo político esquecido numa esquina do Brasil. Viver na Europa, e particularmente na Alemanha, o país mais desenvolvido do continente europeu, é uma experiência que me tem permitido conhecer ainda melhor o Brasil, um tipo de conhecimento que só é possível a partir do distanciamento geográfico.

A.C.I.M.A. – Como e quando se dá o seu primeiro contato com a escrita? Sobre qual tema você escreve? De onde vem as inspirações para suas obras literárias? Poderia nos contar um pouco sobre seu processo criativo?

A. S. – Meu primeiro contato com a escrita literária deu-se aos cinco anos, quando escrevi meu primeiro livro. Antes mesmo de ter lido um livro, escrevi um. Dos cinco aos vinte e cinco anos, devo ter escrito entre dez e quinze livros, até começar a pesquisa para o meu romance de estréia: “A Condessa de Picaçurova”. Digo, “estréia” para o público. Da obra pregressa pouco restou. Considero tudo o que escrevi antes de “A Condessa de Picaçurova” mero exercício de composição da minha voz narrativa. Sobre temas, eu não costumo pensar neles antes de escrever. O enredo também não é o ponto de partida. Temas e enredos não me comovem. A palavra como matéria-prima, a linguagem como argamassa, o texto como escultura, é isso o que mais me inspira. Mas estou sempre atento. Acho perigoso o fetiche em torno da linguagem. A ideia da literatura calcada unicamente na arquitetura da linguagem soa positivista. É uma casca estéril. Minha obsessão é pelo personagem, ou mais precisamente pela construção do personagem. Uma vez construído o personagem, ele próprio expõe seus temas, sua doença, suas obsessões, ele é o único descobridor e condutor do enredo. Todo o meu processo criativo é formado pelos andaimes em torno do personagem.

A.C.I.M.A. – Poderia nos falar um pouco sobre suas obras, seu percurso, e particularmente sobre as importantes premiações literárias das quais participou?




A. S. – Participei como colaborador de institutos internacionais voltados para a pesquisa sobre Diversidade Cultural, como o DiverCult, desenvolvido na Espanha, e a RAIA – Rede Audiovisual Ibero-Americana. No mesmo período, colaborei com a pesquisa e arquitetura do documentário Ctrl-V – VideoControl, do diretor Leonardo Brant, lançado em 2011, sobre os efeitos da indústria cinematográfica no imaginário das sociedades contemporâneas. O meu primeiro romance é “A Condessa de Picaçurova”, publicado em meados de 2012 e, no mesmo ano, indicado a um dos mais respeitados prêmios literários do Brasil: o Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional. Creio que fui o único autor realmente “estreante”, ou seja, sem qualquer obra pregressa publicada, a concorrer com grandes nomes da literatura contemporânea, como Nélida Pinon, Luiz Vilela, João Gilberto Noll, Luiz Ruffato, enfim, autores que admiro profundamente. O romance já havia vencido o Prêmio Nascente da Universidade de São Paulo, na categoria melhor romance, em 2009. Em 2013, enquanto eu participava da Frankfurter Buchmesse, em homenagem ao Brasil, recebi a indicação da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, na categoria “abaixo de 40 anos”, para o Prêmio São Paulo de Literatura. O processo todo relacionado às premiações literárias tem sido extremamente positivo, em termos mercadológicos e de interesse pelo romance. O livro está em plena adaptação para o teatro, além de outras novidades sobre as quais prefiro não falar ainda.

A.C.I.M.A. – Qual foi a pessoa que primeiramente acreditou em seu talento? E qual outra linguagem da Arte tem o seu interesse?

A. S. – Acreditar no talento” é uma expressão maravilhosa! Significa que existe a crença, sem que se possa confirmar o talento! De todo modo, a primeira pessoa que acreditou que eu tinha algo a dizer foi o meu pai. O diálogo entre nós sempre se deu por meio da literatura. Ele lia tudo o que eu escrevia e me incentivava bastante, comprava coleções de clássicos, me entregava. Eu sempre li muito desde pequeno. Kafka, Dickens, Balzac, Machado, estavam sempre à mão, nas estantes de casa. Aos onze, doze anos, ele ficou impressionado com um romance infanto-juvenil que escrevi e me matriculou numa escola de belas artes. A partir de então, tive contato com diversas outras formas de expressão artística, aperfeiçoei o meu traço e passei a me dedicar intensamente ao desenho e à xilogravura. Depois disso, fiz praticamente tudo: atuei como ator, dramaturgo, diretor, produzi e gravei um disco, pintei alguns quadros, esculpi, enfim, quase tudo. São todas formas de Arte que aprecio e me sensibilizam muito.

A.C.I.M.A. – O que você acha que seria prioritário fazer para criar oportunidades para valorizar e divulgar o trabalho dos escritores e artistas brasileiros no Brasil e no exterior?

A. S. – Nada pode ser feito para “valorizar” o trabalho dos escritores, nem no Brasil nem fora. A atribuição de valor é um processo histórico. Apenas o tempo, e realmente só o tempo, dirá quais obras serão alçadas ao patamar das obras “valiosas”. Por melhor que seja a resenha, o prêmio, o elogio na primeira página do jornal, isso tudo não passa de maquiagem, uma maquiagem efêmera que serve apenas para realçar e falsear qualidades. Este realce e falseamento encontram sentido no plano das sociedades de consumo. São artifícios empregados para fins mercadológicos, em que a literatura também é produto, mas em termos históricos não possuem qualquer relevância. A divulgação das obras e a criação de oportunidades também depende de fatores mercadológicos e essa parte é relativamente fácil, pois independe de mérito literário. Basta que o autor saiba se situar no mercado e esteja disposto a permanecer nele. O mercado só quer quem o queira. Antes de lamentarmos esta realidade, basta que lembremos do tempo e de sua mão inclemente. Toda euforia será silenciada.

A.C.I.M.A. – Na sua opinião, qual o maior obstáculo que encontra o escritor brasileiro para ingressar no universo literário? Como você divulga o seu trabalho?





A. S. – Os obstáculos para que o escritor ingresse na ciranda-cirandinha são os mesmos que os arquitetos encontram para ingressar nas rodinhas da arquitetura, os dentistas nas da odontologia, os músicos na música, e assim por diante. Nada é exclusivo do “universo literário”. As cercas estão por todos os lados, cada qual querendo demarcar o lote, medindo o espaço palmo a palmo. Não creio que há muito a acrescentar quanto a este ponto. Compreendo esta dinâmica segundo o seu aspecto lúdico, como o Huizinga descreve em Homo Ludens. Em geral não perco meu sono com a questão da divulgação. Mas quando estou disputando prêmios, acho divertido o assédio generalizado e isso estimula um competidor que carrego internamente, mas que quase nunca se manifesta. Além disso, acho extremamente engraçada a correria desenfreada, a simulação de prestígio empreendida pelos próprios escritores em torno de suas obras e de si próprios. É o que chamo de “síndrome da autofelação”. Acompanhar de vez em quando o que é publicado nas redes sociais é diversão garantida!

A.C.I.M.A. – Que conselho daria à quem esta dando os primeiros passos no universo literário?


A. S. – Leia muito. Principalmente a Grande Literatura, os clássicos. Se sentir que há algo a ser acrescentado, provavelmente é uma falsa impressão. Então espere a vontade passar, resista, adie o máximo possível. Se o ímpeto diminuir, por favor, desista. E, principalmente, não publique nada antes dos 30 anos. Você não é a Françoise Sagan e jamais será o Castro Alves.

A.C.I.M.A. – Qual sua opinião sobre o momento “economicamente feliz” que o Brasil está vivenciando atualmente? Segundo seu ponto de vista será duradouro?

A. S. – Sei da existência de algumas famílias brasileiras que são economicamente felizes e, ao que parece, esta felicidade tem durado alguns séculos. Se os ventos continuarem soprando como sempre sopraram, sim, essa felicidade tem tudo para durar ainda mais. 





A.C.I.M.A. – Qual é o seu objetivo literário no momento? Quais livros você publicou? Pode nos deixar aqui uma bibliografia (título/Ano de publicação/ Tema e público alvo/ Em uma frase a mensagem de cada obra)?

A. S. – Meu objetivo literário é escrever bem. Todo o resto é irrelevante. Este ano publicarei, pelo menos, três livros. No primeiro semestre, serão publicados dois livros de não-ficção: “Três vinténs para a Cultura”, um livro ensaístico com feições de romance sobre o conceito de cultura previsto na Constituição Federal e o panorama do incentivo à cultura no Brasil. Além deste, será publicado em coautoria com o documentarista Leonardo Brant o livro “Videocracia”, sobre as perspectivas das formas de autorepresentação audiovisual e o modelo vigente. Ambos os livros tem como público-alvo pessoas interessadas em cultura, de maneira ampla.
No campo da ficção, tenho dois livros em franco andamento, um romance e um livro de contos. Pretendo publicar o romance já no segundo semestre, mas por enquanto não gostaria de falar a respeito. Por hora, reporto-me ao meu primeiro romance, publicado em 2012, chamado “A Condessa de Picaçurova”. Escrevi o romance inspirado nas pulsões sociais que assolam o Brasil e o mundo, desde 2008. Para tanto, fiz uso de alegorias da chamada cultura popular, pois meu maior intuito era problematizar os paradigmas do Poder, ao mesmo tempo em que levantava questões sobre a própria forma da contemporaneidade. Alguns leitores e críticos dizem que o romance é uma fábula ácida, outros que é um romance de crítica social. Não sei, não cabe a mim encontrar uma categoria para o romance.

A.C.I.M.A. – Se desejar deixe-nos uma mensagem, frase, reflexão ou poesia de sua autoria, por favor!

A. S. – Sim, aproveitando o início do 2014, desejo a todos um excelente e profícuo ano, repleto de encontros e trocas.


Rapidinhas:

A.C.I.M.A. – Uma saudade?
A. S. – Minha ingenuidade.

A.C.I.M.A. – Um sonho?
A. S. – O Berliner Pfannkuchen com recheio de licor.

A.C.I.M.A. – Um lugar?
A. S. – O acolá é sempre mais interessante.

A.C.I.M.A. – Uma música?
A. S. – Neptune, Gustav Holst.

A.C.I.M.A. – Uma tristeza?
A. S. – Todas e nenhuma.

A.C.I.M.A. – Um barulho?
A. S. – Feira de rua.

A.C.I.M.A. – Um cheiro?
A. S. – Mato molhado.

A.C.I.M.A. – Doce ou salgado?
A. S. – Doce.

A.C.I.M.A. – Destino ou casualidade?
A. S. – O Acaso.

A.C.I.M.A. – Quente ou frio?
A. S. – Frio.

A.C.I.M.A. – Seu hobby?
A. S. – Nenhum.

A.C.I.M.A. – Comida preferida?
A. S. – A que sacia.

A.C.I.M.A. – O que ama?
A. S. – Algumas pessoas.

A.C.I.M.A. – O que não ama?
A. S. – Muitas pessoas.

A.C.I.M.A. – Um livro?
A. S. – Não vou responder.

A.C.I.M.A. – Um filme?
A. S. – Qualquer um do Luchino Visconti.

A.C.I.M.A. – Uma homenagem?
A. S. – Melhor não.

A.C.I.M.A. – Momento inesquecível?
A. S. – Primeiro dia de aula.

A.C.I.M.A. – Três coisas fundamentais para ser feliz?
A. S. – Evitar qualquer tipo de reflexão.
Não ter qualquer senso do ridículo.
Aceitar as coisas exatamente como elas são.


 



Contato pessoal: jricconne@gmail.com




 


A.C.I.MA. – Muito obrigada ANTONIO SALVADOR. Parabéns pelo seu lindo trabalho. Sucesso SEMPRE!


Compartilhando entrevista/resenha da Folha de São Paulo sobre “A Condessa de Picaçurova” assinada por Alcir Pécora:






A.C.I.MA. - Conectando Mentes & Culturas!

www.acimamandala.com


Para ter acesso as entrevistas e conhecer melhor essa geração fantástica de artistas e escritores que, com Cores & Letras, estão escrevendo a nossa história, clique nos links abaixo. Boa leitura.


    EXTERIOR

A.C.I.M.A entrevista GEOVANA CLÈA ( Itàlia)
A.C.I.M.A entrevista ANA MIQUELIN ( Itàlia)
A.C.I.MA. entrevista FÁTIMA FREITAS (Suíça)
A.C.I.MA. entrevista MARA PARRELA (Holanda)
A.C.I.MA. entrevista LÚCIA AMELIA BRÜLLHARDT   (Suíça)
A.C.I.MA. entrevista MARCOS BORGES (Dinamarca)
 
http://acimamandala.blogspot.it/2012/03/acima-entrevista-marcos-borges.html
A.C.I.MA. entrevista JOSANE MARY AMORIM (Holanda)
A.C.I.MA. entrevista ROSENI KURÀNYI (Alemanha)
A.C.I.MA. entrevista JACILENE BRATAAS (Noruega)
A.C.I.MA. entrevista ALEXANDRA MAGALHÃES ZEINER (Alemanha)
A.C.I.MA. entrevista EVANDRO RAIZ RIBEIRO (Japão)
A.C.I.MA. entrevista a escritora ROSEMARY MANTOVANI (Itália)
A.C.I.MA. entrevista a escritora KARINA MARTINELLI (Irlanda)
A.C.I.MA. entrevista a escritora BETI ROZEN (EUA)
A.C.I.MA. entrevista a escritora LIGIA BRAZ (ALEMANHA)
A.C.I.MA. entrevista o escritor Sérgio, BEIJA-FLOR-POETA (ALEMANHA)

A.C.I.MA. entrevista o escritora NELSI EMILIA TORRES STOCKER (Suíça)
A.C.I.MA. Entrevista a Escritor ANTONIO SALVADOR (Alemanha)


BRASIL


A.C.I.MA. Entrevista a escritora FLÁVIA ASSAIFE.
A.C.I.MA. Entrevista o  Escritor  VALDECK ALMEIDA DE JESUS
A.C.I.MA. Entrevista o Professor e Escritor FRANCISCO EVANDRO DE OLIVEIRA (Farick). 
A.C.I.MA. Entrevista a  Escritora   HEBE C. BOA-VIAGEM A. COSTA http://acimamandala.blogspot.it/2013/12/acima-entrevista-hebe-c-boa-viagem-costa.html
A.C.I.MA. Entrevista a  Escritora   GRECIANNY CARVALHO CORDEIRO
A.C.I.MA. Entrevista a  Escritora   ANA CRISTINA COSTA SIQUEIRA
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora DULCE AURIEMO
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora JÔ MENDONÇA ALCOFORADO
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora VERA SALBEGO
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora IZABELLA PAVESI
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora SANDRA NASCIMENTO http://acimamandala.blogspot.it/2014/02/acima-entrevista-escritora-sandra.html
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora ROGÉRIO ARAÚJO (ROFA)  http://acimamandala.blogspot.it/2014/02/acima-entrevista-o-escritor-rogerio.html

A.C.I.MA. Entrevista a Escritora CRISTINA RAMOS

A.C.I.MA. Entrevista a Escritora TEREZINHA GUIMARÃES 






E continua...
 
Se você é um artista brasileiro e deseja participar do Projeto “Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior”, escreva para:  






Nessun commento:

Posta un commento